A cirurgia tornou-se uma paixão muito antes de eu entrar na faculdade. Na adolescência, recordo-me de procurar vídeos na internet sobre cirurgias,  e ficava fascinado com a capacidade de um cirurgião "remover doenças com as próprias mãos". E com essa visão de um menino leigo, eu decidi que eu queria ser cirurgião.

Durante a faculdade dediquei-me a ter contato com as especialidades cirúrgicas, e nesse contexto, conheci a cirurgia oncológica, que me marcou pela complexidade das cirurgias e principalmente, pela capacidade de interferir diretamente no prognóstico das pacientes.

Felizmente tive grandes exemplos de cirurgiões oncológicos na minha formação, todos eles com profundo conhecimento anatômico refletidos em muita segurança durante o ato cirurgico. Decidi que eu gostaria de ser esse cirurgião. Para aprofundar os conhecimentos durante meu período acadêmico, fundei a primeira liga acadêmica de Oncologia da minha faculdade. Passei a acompanhar cirurgias complexas e plantões de cirurgia e minha afinidade só aumentou.

Concluí a faculdade e fui aprovado no concurso de residência medica para cirurgia geral no Hospital Municipal Souza Aguiar, uma das maiores referências em cirurgia de trauma e emergência na ocasião. Adquiri nesse ambiente de inúmeras cirurgias no trauma a capacidade de tomar decisões rápidas e sob pressão, habilidade essa que é indispensável para um cirurgião. Concluindo minha formação em cirurgia geral, iniciei a residência em cirurgia oncológica no INCA, um dos maiores centros de referência em cirurgia oncológica do país.

 

Foram 3 anos de intenso aprendizado, participando e realizando todas aquelas cirurgias de grande complexidade que almejei durante minha formação. Mas o principal aprendizado que tive no inca foi tratar o paciente por trás da doença, sempre afirmo que o inca me formou médico, no sentido mais literal e profundo da palavra. Meu aprendizado na oncologia excedeu a linha de médico quando, nesse período de residência, descobri que minha mãe estava com câncer. Deixei a "armadura" de médico, vesti a armadura de paciente, e consegui entender a complexidade do que é ver uma pessoa amada com uma doença grave.

Descobri no inca uma inclinação para oncologia ginecológica, grande parte por interesse em conhecer a fundo a doença da minha mãe, e optei por dedicar-me a essa subespecialidade.

Após conclusão da minha residência em cirurgia oncológica, tornei-me referência em oncologia ginecológica em 3 hospitais de uma grande rede hospitalar do Brasil, e por consequência, passei a dedicar-me a cirurgias ginecológicas para doenças malignas e benignas e decidi utilizar esse todo conhecimento que adquiri a partir de cirurgias oncológicas, aplicando-os também em cirurgias ginecológicas benignas, como miomas e endometriose, essa última, rotineiramente impõe um nível de complexidade semelhante a uma cirurgia oncológica, e foi exatamente pra isso que me preparei. 

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Acredito que o ápice da satisfação para um cirurgião é saber que seu trabalho artesanal foi capaz de mudar completamente a vida de outra pessoa, cada uma delas de acordo com suas necessidades. Uma cirurgia bem sucedida não significa a retirada de uma doença somente, mas representa Ascenção da carreira, restauração do casamento, viabilizar o sonho de engravidar ou permitir que um ente querido viva mais tempo do que viveria se não fosse operado.

 

Portanto, não vejo o bisturi como um objeto cortante, e sim como um instrumento de escrita para um novo capítulo da vida que se inicia a partir dele.